sábado, 16 de novembro de 2013

NÁUFRAGO

NÁUFRAGO


As noites colorem meus dias
que me parecem escuros.
O mar me recebe de braços abertos
porque o mar é mulher
e eu quero ir pra casa.

Mas há uma luz, como um farol
Convidativa, se avistada de longe
Cegante, para quem a conhece de perto
Insistindo em fazer sentido,
roubando nossas almas,
tornando-nos autômatos.

O rumor marítimo insiste, no entanto.
A brisa traz o cheiro,
e minha lágrima,
ela, que é também uma gota de mar,
liberta meu olhar da luz cegante.
Busca consolo em suas irmãs salgadas
e o mar me recebe de braços abertos
porque o mar é mulher
e eu estou indo pra casa.

(13-02-2013)

Hysteria (Muse Cover) - by Samsara (31-08-13)

terça-feira, 23 de abril de 2013

A MÁQUINA DE NINAR (VERSÃO DIGITAL)


A MÁQUINA DE NINAR
(VERSÃO DIGITAL)


Dentro da máquina
Uma engrenagem respira
Quando será engrenagem de si mesma?
Transcender o ranger de dentes
O ser fera entre feras
Saber que o senhor da luz elétrica
Não é senhor do fogo...
Mas é o medo
Ah, o medo!
De que a máquina pare
Que cantiga de ninar
Seria tão aconchegante
Quanto o ranger de dentes da máquina?

(23-03-2006)

sábado, 21 de julho de 2012

A BUSCA

Esse eu não sei dizer quando escrevi,acho que foi por volta de 2004. Já o publiquei num blog, o antigo MSN Spaces, que foi retirado do ar sem dó nem piedade. Depois de procurar em vão o caderno onde ele estava escrito originalmente, acabei, aos poucos, resgatando todos os versos do fundo da memória. É um pouco diferente do meu estilo habitual. Essa é a que eu chamo de "versão auto-psicografada" de "A Busca".


A BUSCA

Tentaram por tantos anos
a química perfeita
Fazer dos ossos humanos
o metal mais precioso
Possível poderia ser
se uma vida fosse tempo
suficiente para tal empreitada
Corramos,então
Excedamos a velocidade
para ter nossa busca encurtada
Quem dera não fosse, a fadiga,
de nossa desdita a culpada.
Com que velocidade se foge
dos próprios ossos?
Com que idade, 
de quantos séculos,
serão recompensados nossos esforços?
Ah, minha metade,
a sincronicidade, nossa amiga,
poupou-nos de tamanha fadiga
pondo-te ao lado de mim, 
teu bardo
que canta o que não é dado
conhecer ou sentir.
Mas ao depor aqui 
meu fardo e tua pena,
pergunto eu, como esfinge
que nos devora e condena:
"Serei eu ouro que baste para ti, 
minha pequena?"



quinta-feira, 17 de maio de 2012

A PALAVRA


A PALAVRA


I

É engraçado como se perde
o sentido de uma palavra
ao se repetí-la
em exagero e vãmente.
Palavras têm poder,
mas a palavra guardada
tem mais poder
do que a palavra dita. 

II

Era uma vez um homem.
Um dia esse homem
pronunciou uma palavra
que nunca havia pronunciado antes.
Ao fazê-lo, o homem deu nome
ao outrora inominado.
A palavra, uma vez dita
tornou-se um invólucro,
um receptáculo.
Depois, produzida em massa
e usada para esconder
conteúdos dos mais diversos,
a palavra perdeu sua essência
e todo seu poder.
E as eras a cobriram de poeira.

III

Agora eu sou.
Eu sou um homem diferente,
mas de certa forma
aquele mesmo homem.
Sinto uma coisa, um desejo,
tenho uma ideia, uma visão.
Preciso dar um nome a isso.
Preciso de uma palavra
que ainda não foi dita.
Uma palavra
que não sirva para isso,
mas que o seja, e...
É então que ela vem.
Não a conheço,
mas sei que a chamo.
Sim!
Eu tenho uma palavra não-dita!
Mas que palavra é essa
que eu tenho?
O que é...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SIMPLESMENTE SER

SIMPLESMENTE SER

Como será
viver a própria vida?
Sentir a presença de si próprio
estar no seu lugar
e não no de um estranho
sentir o instante
o momento presente
não o que virá
ou o que já foi...
Como será simplesmente ser?
Quero beber a existência 
até o fim
e me embriagar de mim.